Sou o grande senhor
do conhecimento, não tenho chefe e nem supervisor. Cometo diversos erros todos
os dias, inclusive trato mal os meus clientes, muitas vezes sem dó. Sou
altamente qualificado, tenho especialização e mestrado e já estou fazendo doutorado.
Sou muito importante, mas sou visto como arrogante, mas que infames são todos
eles que só deveriam me proferir agradecimentos e diversos elogios.
Cada um de “vocês” representa
apenas um horário a ser preenchido dentro do meu glorioso dia. Muitos vêm e vão
todos os dias, raramente lembro um rosto, a não ser que me convenha. Funciona
basicamente assim:
·
O das 08h horas chega às 07h, ou até
bem antes, às vezes até no dia anterior; Para que eu vou ter pressa e chegar no
horário certo, posso chegar às 10h e ainda ficarem felizes pela minha vinda.
Também tenho muito que resolver da minha vida pessoal e ainda tenho outros
empregos para dar atenção.
·
Estudei muito para manter e salvar
vidas, mas a vida que mais me importo é a minha mesma, a qual necessita de
muito dinheiro para manter meu alto padrão de vida e assim, ser mais fácil
exibir meu grande ego. Pronto, falei tudo; ou quase tudo.
·
Venho de família onde todos tem uma
boa carreira, não posso ficar por baixo, já até troquei o carro que meu pai me
deu para comprar outro recém-lançado neste ano.
Conteste quem
quiser, mas argumente bem. Lógico que em tudo existe exceções, mas nesse caso
não deveria ser dessa forma; até porque é com um ser vivo que se está lidando e
de sua mesma espécie. Muitos médicos seguem um padrão de comportamento quando
trabalham, aprecem treinados para terem tais atitudes, e até que alguns são. Eles
trabalham com um tipo de serviço altamente delicado, talvez o mais delicado de
todos, mas faz questão de lidar com isso de forma objetiva, fria, rápida (o
mais rápido possível), o mais impessoal possível e sempre preparado para falar
asneiras para fazer com que todos os seus inferiores se sintam inferiores. Sorrisos,
simpatia e companheirismo são reservados apenas para seus iguais.
Quem nunca fez a
seguinte comparação ou não percebeu, veja isso agora. Em uma mesma universidade
pública existe certa diferença nos alunos de determinados cursos.
Principalmente nos cursos das áreas de saúde e os demais e do curso de medicina
e os demais. Talvez o ENEM, que muitas
vezes seleciona mal os alunos, mude essa realidade; mas dele, não falarei mui.
Alunos do curso de medicina muitas vezes já se conhecem antes mesmo de
iniciarem as aulas, pois já estudaram juntos desde sempre ou em algum momento
de suas vidas; ou ainda, frequentam os mesmos ciclos sociais e até suas
famílias se conhecem. Eles sempre estudaram em escolas particulares de
mensalidades altíssimas e tiveram muitas oportunidades que outros nem sequer sonhariam.
O curso de medicina,
geralmente, é um curso que requer bastante esforço do aluno e dedicação integral.
Um aluno pobre que termina o ensino médio é pressionado a trabalhar, caso
contrário, nem dinheiro da passagem ele poderá ter para ir até a faculdade, que
já é um sonho ter passado. O Exame Nacional do Ensino Médio, com seu modelo de
prova, torna cada vez mais possível que as classes mais baixas tenham acesso às
universidades e isso é muito bom.
O Governo quer
facilitar entrada de médicos estrangeiros no Brasil. A ideia é corrigir a falta
de profissionais no interior do país, nas periferias e nos programas de
assistência básica. Para o governo, a carência precisa ser solucionada o quanto
antes. E medidas estão sendo analisadas. Todos os anos, centenas de novos
médicos saem das universidades brasileiras. Ainda assim, faltam profissionais
no interior do país, nas periferias das grandes cidades, nos programas de
assistência básica. E nem mesmo salários de R$ 20 mil ou R$ 30 mil atraem o
interesse de médicos. O Governo Federal está estudando uma série de medidas
para corrigir essas distorções. Uma delas é facilitar a validação do diploma de
médicos estrangeiros, para que eles assumam as vagas. Saiba mais detalhes e
assista a reportagem.
Entidades médicas já
disseram que vão entregar aos ministérios da Saúde e da Educação um manifesto
contra essa medida. Já os pacientes que percorrem longas distâncias para
conseguir atendimento esperam que a medida comece logo e que faça efeito.
Um médico recém-formado
tem oportunidades de ter ótimos salários e, mesmo assim, recusam o que causa estranheza
para muitos. Alguém que sempre teve muitas vantagens na vida não gostaria de trabalhar
em lugares que não possuem um shopping,
festas quase todos os dias, restaurantes que sempre costumara ir, clubes que
adoram frequentar, dentre outras coisas. Alguém assim não gostaria de morar em
uma cidade do interior qualquer para trabalhar diariamente atendendo a pessoas carentes
de diversos serviços básicos que até por lei lhes é garantido. Vejo cidades do
interior do nosso estado em que as pessoas sofrem para se transportar durante a
madrugada para serem atendidas nas grandes cidades; isso se o médico não faltar
ou atrasar. Postos de saúde são fechados por falta de profissionais que queiram
trabalhar em certas áreas. Alguns postos até funcionam, mas não possuem médicos
sempre para o atendimento.
O que pode ser
feito?
Reeducar os
professores das disciplinas dos cursos de medicina para que eles possam
transmitir aos seus alunos que o exercício da medicina não é o mesmo que o de
um atendente de telemarketing; o
paciente tá bem ali, na sua frente e não lá em baixo, no pesinho do seu trono. Aquela
pessoa que é paciente está ali não pro que a sua conta de luz veio além do que
ela consumiu e sim por que ela está com algum problema de saúde que pode ser
até fatal. Acabei de pensar que pode até ser pecado, para os citados
professores, eu falar algo assim, pois ele, mais ainda que os médicos, são
superiores e detentores de um vasto conhecimento.
Os estudantes de
medicina poderiam algumas disciplinas de como lidar com o paciente nas diversas
situações da sua carreira. Se não é uma disciplina que está faltando, pensem em
algo, por favor, e rápido. Pois milhares de pessoas são humilhadas todos os
dias para terem um serviço de saúde que as ajude a sobreviver a alguma
enfermidade que lhes acomete.
Espero com muita fé
que muitos estudantes de medicina e humildes se formem e nunca percam sua
humildade.
Não é um absurdo que
se “importe” médicos e sim trágico.
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