terça-feira, 10 de abril de 2012

Por que eu sou um médico?



Sou o grande senhor do conhecimento, não tenho chefe e nem supervisor. Cometo diversos erros todos os dias, inclusive trato mal os meus clientes, muitas vezes sem dó. Sou altamente qualificado, tenho especialização e mestrado e já estou fazendo doutorado. Sou muito importante, mas sou visto como arrogante, mas que infames são todos eles que só deveriam me proferir agradecimentos e diversos elogios.
Cada um de “vocês” representa apenas um horário a ser preenchido dentro do meu glorioso dia. Muitos vêm e vão todos os dias, raramente lembro um rosto, a não ser que me convenha. Funciona basicamente assim:
·         O das 08h horas chega às 07h, ou até bem antes, às vezes até no dia anterior; Para que eu vou ter pressa e chegar no horário certo, posso chegar às 10h e ainda ficarem felizes pela minha vinda. Também tenho muito que resolver da minha vida pessoal e ainda tenho outros empregos para dar atenção.
·         Estudei muito para manter e salvar vidas, mas a vida que mais me importo é a minha mesma, a qual necessita de muito dinheiro para manter meu alto padrão de vida e assim, ser mais fácil exibir meu grande ego. Pronto, falei tudo; ou quase tudo.
·         Venho de família onde todos tem uma boa carreira, não posso ficar por baixo, já até troquei o carro que meu pai me deu para comprar outro recém-lançado neste ano.

Conteste quem quiser, mas argumente bem. Lógico que em tudo existe exceções, mas nesse caso não deveria ser dessa forma; até porque é com um ser vivo que se está lidando e de sua mesma espécie. Muitos médicos seguem um padrão de comportamento quando trabalham, aprecem treinados para terem tais atitudes, e até que alguns são. Eles trabalham com um tipo de serviço altamente delicado, talvez o mais delicado de todos, mas faz questão de lidar com isso de forma objetiva, fria, rápida (o mais rápido possível), o mais impessoal possível e sempre preparado para falar asneiras para fazer com que todos os seus inferiores se sintam inferiores. Sorrisos, simpatia e companheirismo são reservados apenas para seus iguais.
Quem nunca fez a seguinte comparação ou não percebeu, veja isso agora. Em uma mesma universidade pública existe certa diferença nos alunos de determinados cursos. Principalmente nos cursos das áreas de saúde e os demais e do curso de medicina e os demais.  Talvez o ENEM, que muitas vezes seleciona mal os alunos, mude essa realidade; mas dele, não falarei mui. Alunos do curso de medicina muitas vezes já se conhecem antes mesmo de iniciarem as aulas, pois já estudaram juntos desde sempre ou em algum momento de suas vidas; ou ainda, frequentam os mesmos ciclos sociais e até suas famílias se conhecem. Eles sempre estudaram em escolas particulares de mensalidades altíssimas e tiveram muitas oportunidades que outros nem sequer sonhariam.
O curso de medicina, geralmente, é um curso que requer bastante esforço do aluno e dedicação integral. Um aluno pobre que termina o ensino médio é pressionado a trabalhar, caso contrário, nem dinheiro da passagem ele poderá ter para ir até a faculdade, que já é um sonho ter passado. O Exame Nacional do Ensino Médio, com seu modelo de prova, torna cada vez mais possível que as classes mais baixas tenham acesso às universidades e isso é muito bom.

O Governo quer facilitar entrada de médicos estrangeiros no Brasil. A ideia é corrigir a falta de profissionais no interior do país, nas periferias e nos programas de assistência básica. Para o governo, a carência precisa ser solucionada o quanto antes. E medidas estão sendo analisadas. Todos os anos, centenas de novos médicos saem das universidades brasileiras. Ainda assim, faltam profissionais no interior do país, nas periferias das grandes cidades, nos programas de assistência básica. E nem mesmo salários de R$ 20 mil ou R$ 30 mil atraem o interesse de médicos. O Governo Federal está estudando uma série de medidas para corrigir essas distorções. Uma delas é facilitar a validação do diploma de médicos estrangeiros, para que eles assumam as vagas. Saiba mais detalhes e assista a reportagem.
Entidades médicas já disseram que vão entregar aos ministérios da Saúde e da Educação um manifesto contra essa medida. Já os pacientes que percorrem longas distâncias para conseguir atendimento esperam que a medida comece logo e que faça efeito.

Um médico recém-formado tem oportunidades de ter ótimos salários e, mesmo assim, recusam o que causa estranheza para muitos. Alguém que sempre teve muitas vantagens na vida não gostaria de trabalhar em lugares que não possuem um shopping, festas quase todos os dias, restaurantes que sempre costumara ir, clubes que adoram frequentar, dentre outras coisas. Alguém assim não gostaria de morar em uma cidade do interior qualquer para trabalhar diariamente atendendo a pessoas carentes de diversos serviços básicos que até por lei lhes é garantido. Vejo cidades do interior do nosso estado em que as pessoas sofrem para se transportar durante a madrugada para serem atendidas nas grandes cidades; isso se o médico não faltar ou atrasar. Postos de saúde são fechados por falta de profissionais que queiram trabalhar em certas áreas. Alguns postos até funcionam, mas não possuem médicos sempre para o atendimento.

O que pode ser feito?
Reeducar os professores das disciplinas dos cursos de medicina para que eles possam transmitir aos seus alunos que o exercício da medicina não é o mesmo que o de um atendente de telemarketing; o paciente tá bem ali, na sua frente e não lá em baixo, no pesinho do seu trono. Aquela pessoa que é paciente está ali não pro que a sua conta de luz veio além do que ela consumiu e sim por que ela está com algum problema de saúde que pode ser até fatal. Acabei de pensar que pode até ser pecado, para os citados professores, eu falar algo assim, pois ele, mais ainda que os médicos, são superiores e detentores de um vasto conhecimento.
Os estudantes de medicina poderiam algumas disciplinas de como lidar com o paciente nas diversas situações da sua carreira. Se não é uma disciplina que está faltando, pensem em algo, por favor, e rápido. Pois milhares de pessoas são humilhadas todos os dias para terem um serviço de saúde que as ajude a sobreviver a alguma enfermidade que lhes acomete.

Espero com muita fé que muitos estudantes de medicina e humildes se formem e nunca percam sua humildade.

Não é um absurdo que se “importe” médicos e sim trágico. 


...

Nenhum comentário: